Fruto da crise financeira vivida na última década, os Bancos têm sido vistos como causadores e agravadores de problemas sociais.
Porque não passar a vê-los como um instrumento para a resolução de alguns problemas sociais, nomeadamente os que concernem a dificuldades financeiras das famílias e empresas?
Acima de tudo, podem surgir novos negócios para a Banca, com retorno financeiro e crescimento de clientes, se esta souber construir os seus produtos financeiros a partir de novos objetivos de atividades e pela busca de soluções para a concretização de pedidos de apoio financeiro pelos seus clientes.
A inovação da atividade bancária tem assente sobretudo na introdução de tecnologia na comunicação com os seus clientes, sendo quase inexistente ao nível da criação de novos produtos financeiros.
Mas a identificação de problemas, com o intuito de os resolver, tem sido precisamente, ao longo da História, o grande motor para a construções de soluções mais avançadas e inovadoras.
Ajudar os mais frágeis, pelo desafio que acarreta em termos de busca de soluções sustentáveis, é um dos focos de que as empresas mais necessitam para os seus desafios de inovação e mudança.
Por exemplo, a criação do microcrédito, que está na base da consolidação de um Banco inovador, o Grameen Bank no Bangladesh, foi uma resposta à perceção das dificuldades financeiras de mulheres trabalhadoras em artesanato com os seus credores de matérias-primas, que acabavam por explorar o seu trabalho e por conduzi-las a uma vida de escravidão.
A procura de uma solução para esse sofrimento, por parte de Muhammad Yunus, deu origem a uma primeira grande revolução na atividade financeira contemporânea.
É necessário assumir que o combate a todo o tipo de exclusões e problemas sociais se deve fazer, preferencialmente, pela capacitação das pessoas afetadas, em detrimento das políticas de caridade, que se esgotam nessa ação imediata.
Muitas vezes essa capacitação das pessoas mais frágeis passa simplesmente por lhe aumentar os rendimentos líquidos mensais.
As questões centrais estão na desmitificação de uma possível utopia que este novo paradigma de atividade bancária possa assumir, e em segundo, na caraterização da organização empresarial em que deverá assentar a implementação deste novo caminho para a Banca.
Ao longo de três décadas de trabalho na Banca, vivem-se imensas situações novas que são apresentadas para análise de financiamento e que ficam sem resposta, por o esquema tradicional dos produtos financeiros pré-formatados não as conseguir enquadrar.
Torna-se difícil de operacionalizar, e fazer aprovar superiormente, todo um conjunto de soluções novas e a feitio para as situações distintas que são apresentadas.
Muito menos é pensada e sugerida uma via alternativa para a resolução destas situações, não se vendo essas soluções a propor como fatores proporcionadores de mudança de paradigmas de funcionamento de determinados setores de atividades.
Este é o primeiro desafio prático no domínio da responsabilidade social, e que consiste em procurar uma solução alternativa que se aconselhe ao cliente.
É importante saber adotar uma postura de orientação a quem pede apoio, que se dê uma resposta a quem faz uma pergunta.
Será a Caixa Económica do Porto a única e última Instituição financeira capaz de trilhar este caminho?
Poderão os profissionais deste setor passar a estar imbuídos, como sua prioridade, por um espírito de ajuda e de participação na concretização de sonhos de vida dos seus clientes, enquanto o fazem numa entidade sustentável financeira e economicamente?
José Ferraz Alves
Diretor Caixa Económica do Porto