Mensagem da Direção da Caixa Económica do Porto

Excelentíssimos Associados,

A Caixa Económica do Porto – Caixa anexa (CEP) teve o privilégio de ter, durante mais de um quarto de século, na Presidência da entidade detentora da totalidade do nosso capital, a Associação Beneficência Familiar (ABF), o Sr. António Santos Reis, ilustre Presidente que realizou uma obra social de mérito, extensível a vários quadrantes da vida cívica e autárquica do Porto e amplamente reconhecida publicamente por diversas entidades como, por exemplo, a Câmara Municipal do Porto, com a atribuição da medalha de “Mérito – Grau Ouro” e a União das Mutualidades Portuguesas, com o Prémio “Mutualista e Solidariedade”, mas também, em particular, com quem com ele trabalhou nos mesmos propósitos de fortalecimento do movimento mutualista e da economia social.

Nestes dias de luto pelo seu falecimento, compete-nos ressalvar e agradecer o papel que desempenhou para o fortalecimento da nossa entidade, que foi criada em 1905 com propósitos sociais bem definidos, antecedendo a própria criação do Banco de Portugal.

De facto, por Decreto Régio, foi criada a primeira Caixa Económica em Portugal em 17 de Agosto de 1836, a Monte de Piedade, tendo-lhes sido atribuída a possibilidade de receber depósitos e com esses fundos efetuar empréstimos sobre penhores, o que permitiu nesta altura, combater a prática de agiotagem, reafirmando assim a proteção (auxílio) aos seus Associados, segundo os princípios do Mutualismo. Seguiu-se a criação, por parte de ditos “cidadãos responsáveis”, do Montepio dos Servidores do Estado, em 1844. No ano de 1845 foi fundada a Caixa Económica de Angra do Heroísmo. Até ao fim da Monarquia, foram ainda constituídas mais doze Caixas Económicas, cinco delas por Associações Mutualistas e uma por Misericórdias. Durante a República foram criadas mais seis Caixas Económicas, sendo a última no ano de 1932.

De referir que, atualmente, só existem três Caixas Económicas, duas bancárias e uma anexa, a nossa Caixa Económica do Porto, propriedade dos Associados da Beneficência Familiar.

Como bem referiu o Sr. António Santos Reis, (in MUT – Boletim da União das Mutualidades Portuguesas, Edição, nº 1, III série, 25-10-2012, pp. 19-20), “é, pois, a Caixa Económica, essa árvore que produz tais frutos de bênção? É a causa mais conhecida e trivial. É o mealheiro; é esse velho alvitre de poupados que desde pequeninos todos nós temos visto a usar aos poucos opulentos, e que os nossos pais e avós já conheceram; é a astúcia do pobre para fugir à longa lista das superfluidades tentadoras; encerra quase todo o necessário do rico e à custa delas achar em si próprio socorro nos dias de desemprego forçado, da carestia ou da doença”.

A visão sobre empréstimos sobre penhores ainda é hoje algo distorcida, associando-os sempre e só a pessoas em carência plena de recursos e em necessidades financeiras extremas, o que é restritivo do seu alcance. Este tipo de empréstimos surge da defesa do direito ao crédito de pessoas de baixos rendimentos, por haver quem não lhe tenha fácil acesso, desde logo, por não ter conta bancária, por exemplo, uma conta de eletricidade para além do esperado, mas tem um leque de alcance bem mais vasto, mas tem nos dias de hoje, paradoxalmente, um potencial mais alargado.

Trata-se, na prática, da substituição de um bem que se possui por uma quantia em dinheiro de que se necessita, com ganhos em tempo (dado que em 15 minutos se sai da Caixa Económica do Porto com o dinheiro de que se necessita), em custo (85% das taxas de juros dos cartões de crédito) e em sustentabilidade financeira do tomador do empréstimo (se não for possível reembolsar o empréstimo, também não ficará uma dívida para o futuro da família).
Há todo um conjunto de dificuldades nas vidas de todos nós que pedem para se encontrar uma resposta, e fazê-lo numa lógica de partilha de ganhos e de resolução de problemas das pessoas é a forma mais nobre de se desenvolver uma atividade económica, vetores que identificam a nossa ação e que sempre moveram o Sr. António Santos Reis, numa prossecução de uma gestão sã, prudente e legal da instituição em prol das necessidades dos seus associados/clientes.

É com especial orgulho que fazemos hoje parte de uma equipa que respira os mesmos valores mutualistas, de Segurança, Confiança, Transparência, Rigor e Competência, princípios que sempre nos foram transmitidos pelo Presidente da ABF Sr. António Santos Reis.

O Sr. António dos Santos Reis deixa-nos o legado de nos desafiarmos a nós próprios como responsáveis por uma Instituição com tantos anos de existência, dado que uma história de vida de 115 anos traz-nos algo de novo e diferenciador ao nível da atividade bancária atual, cuja inovação tem sido assente sobretudo na introdução de tecnologia na comunicação com os seus clientes, sendo quase inexistente ao nível da criação de novos produtos financeiros.

A identificação de problemas, com o intuito de os resolver, tem sido precisamente, ao longo da História, o grande motor para a construções de soluções mais avançadas e inovadoras. Ajudar os mais frágeis, pelo desafio que acarreta em termos de busca de soluções sustentáveis, é um dos focos de que as empresas mais necessitam para os seus desafios de inovação e mudança.

Em respeito pela memória do Sr. António Santos Reis, e com o apoio muito competente e dedicadíssimo da atual Direção da Associação Beneficência Familiar, iremos prosseguir este caminho.

A Presidente da Direção da CEP
Ilda Helena Oliveira