Primeiro as pessoas e as suas necessidades

A realidade que vivemos há já 10 meses tem-nos mostrado a importância de dois fatores para uma harmoniosa e próspera vida em sociedade: (i) o papel para a atividade económica das incertezas na formação de expetativas, isto é, o que sentimos hoje sobre o que possa ser o nosso futuro determina esse mesmo momento de tempo; (ii) a importância das redes de pessoas para a criação de riqueza numa economia, em que o dinheiro se vai multiplicando pelo efeito da sua circulação entres elas.

Quanto ao primeiro fator, o princípio da incerteza, foi introduzido mais formalmente pelo economista John Maynard Keynes, que percebeu a sua importância para o comportamento das variáveis económicas numa economia, sendo as decisões desta natureza baseadas nas expectativas que os agentes formam sobre as variáveis relevantes. A expectativa do valor futuro de uma variável poder-se concretizar ou não, leva a um processo contínuo de formação e revisão de expectativas ao longo do tempo. Por exemplo, a expectativa de redução a prazo do rendimento de uma família levará à diminuição hoje do consumo e/ou do investimento que faz, potenciando a concretização no futuro do que era apenas uma expetativa. Naturalmente, também terá o seu efeito inverso, caso essa expectativa seja positiva.

Quanto ao segundo fator, a importância das redes de pessoas, fica uma pequena história, de um turista, que acabado de chegar a uma pequena vila, faz o check-in num hotel, pagando de imediato 100 euros pela estadia de uma noite, subindo em seguida para o seu quarto. Entretanto, o dono do hotel, que devia 100 euros ao talho em frente, aproveitou para ir lá pagar a sua dívida. O dono do talho, que devia 100 euros ao supermercado da vila, foi lá também para a pagar. O dono do supermercado, aproveitando a presença do transportador de mercadorias no seu espaço comercial, pagou-lhe de imediato os 100 euros que devia. Este, tendo uma dívida de 100 euros ao hotel, aí deslocou-se e pagou-a. Entretanto, o turista desceu as escadas e dirigiu-se à receção solicitando a devolução dos 100 euros, dado que o quarto não tinha a varanda com vista para a rua central que tinha pedido na reserva, tendo pegado no carro e seguido viagem. Naquela vila, nenhum serviço foi prestado, nenhum valor criado, mas os quatro agentes económicos saldaram as suas dívidas e sentir-se-ão, naturalmente, mais otimistas em relação ao futuro da sua vida.

A criação de riqueza decorre, naturalmente, de um processo em que as pessoas talentosas, experientes e transparentes estabelecem relações de confiança, sendo inovadoras, criativas e assim construindo riqueza. Esta, dependendo do sistema em que se vive, é acumulada numa empresa, numa instituição, numa Fundação e é, ou não, reinvestida. A riqueza acaba por se transmitir de várias formas, por vezes até de forma pouco ortodoxa. Uma pessoa que tem muito dinheiro e o estraga em grandes jantaradas, está a distribuir riqueza de uma maneira, aparentemente incorreta, mas o importante é que se, se tem dinheiro a mais, que o passe para outro lado qualquer, como as pessoas que o serviram, os fornecedores dos equipamentos que ele utilizou, o dono desse negócio. A parte menos importante é quem detém a riqueza, porque ninguém a leva para a cova.

Portanto, o dinheiro tem de circular, de passar por um circuito virtuoso.

Todos dependemos e precisamos dos outros, pelo que o medo do futuro e um desenfreado individualismo na busca de soluções acabam por ser ineficientes para a correta afetação de recursos e desenvolvimento de uma economia.

Os dois fatores referidos, positividade quanto ao futuro e partilha entre redes de pessoas, são para nós ainda mais relevantes, por estarem na essência da Caixa Económica do Porto (CEP), uma Instituição de Crédito registada no Banco de Portugal e integrada numa rede mutualista.

De facto, as pessoas estão na sua génese e são a sua grande vantagem competitiva, sendo objetivo da CEP os atuais 45 mil Associados da Associação Beneficência Familiar (ABFAMILIAR), a entidade detentora da totalidade do seu capital, existindo para responder aos seus interesses e necessidades, procurando desenvolver, por via direta, as respostas financeiras a problemas sociais existentes e, por via indireta, canalizando os proveitos da sua atividade para a sua entidade titular, a ABFAMILIAR, poder financiar os seus propósitos de apoio em necessidades que tenham sido eleitas e que possam ser satisfeitas de forma organizada (funerais, saúde, educação, turismo, por exemplo).

Uma entidade financeira integrante da economia social tem um papel importante na sociedade por este papel de intermediação de fundos, tendo-o de o fazer de uma forma responsável e sustentável, procurando estruturar produtos que tenham objetivos para além dos meramente materiais.

Na oferta de empréstimos de forma rápida e sem burocracia ou exigência de garantias pessoais, como os créditos com penhor, na remuneração de aplicações a prazo, e, em breve, com o microcrédito, com as operações com garantia mútua que substituem garantias reais, ou pelos créditos para obras de reabilitação de pensionistas de baixos rendimentos ou moradores em bairros sociais, estando a CEP sempre disponível para ouvir quais as necessidades dos seus Associados que possam ser satisfeitas por uma entidade financeira.

Mas, a CEP só existirá se for capaz de responder às necessidades dos seus Associados, porque sem eles não conseguirá subsistir de forma autónoma e sustentável.

 

José Carlos Ferraz Alves

Diretor

Caixa Económica do Porto